terça-feira, 30 de junho de 2009

Sobre o dia em que olhares deram de chover

tinha uma chuva olhada escorrendo lá fora,
foi a chuva menos molhada que já se viu

olhe!

não é que não pudesse me encharcar
ou que não caíssem gotas suficientes
eu vi que tinham
e eram de água corrente

mas é que caíam olhos ao invés de pingos

toda a água na qual ia se esvaindo
era de lágrimas que tropeçaram
e que como os rios
foram para o mar

fui tomar aquela chuva pela primeira vez
e não pude mais vê-la,
pois era a chuva que tinha olhos
pra me m'olhar

se vinham do céu,
eram anjos então
tinham asas olhos
ou eram dos anjos elas?

sei só que choveram olhares
milhares de m'olhares
e um molho deles se formou no chão

de quem era aquele choro
que chovia?
feito num coro de vozes pingadas
ou de piscadas
dos anjos

que me olham
quem se molham

depois da chuva
evaporaram todos das poças de olhares,
ou usaram umas asas
para vestir as suas vestes
e tornar pra d'onde vieram
... as órbitas

se eram anjos
choravam à revelia
ficou escuro pra que pudessem chover em paz
não os vi,
mas chorei também

e quando a noite caiu,
ainda era dia.

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