quarta-feira, 28 de março de 2012

Graça grátis.

Acho que não levo muito jeito para a tragédia.
Daquelas genuínas em que as palavras jorram sangue e sugam lágrimas.
Tento escrever algo que transpareça como a minha alma se sente frustrada. Diluída.
Mas parece mais é que eu não consigo.
Meu lápis ou pena, logo da palavra se torna amigo.
E tudo que eu sentia trágico se torna cômico no papel.
É um trem tão doido que até eu, que não tinha nada a ver com essa coisa de rir da minha própria desgraça, começo a me sentir assim, meio engraçada.

domingo, 25 de março de 2012

Carambelança

meu cabelo embaraça
e me vejo no meio dele sem ar

é uma trança
é uma traça
que engole
toda a água mole do mar

meu cabelo é um caracol
quando vem nele pousar uma mosca de padaria
e com o bicho ele dança
numa cabelança
que se caramela na ventania

cabelo que brota marrom
onde dele escorria um dread

da ponta até a raiz
cacheado cabelo
que me sai pelos ombros
feito água espetaculosa de chafariz

cabelo que faz o céu nublado
e que quando descabelado
nubla o firmamento também

cabelo molhado
que então chove

cabelo grotesco pequenininho que enrola
com gosto de cabo de guarda-chuva
e cheiro de carambola

e assim, numa cabeludez danada
trovoa matreiro e escorre
esse meu cabelo arrepiado
que na tesoura morre