segunda-feira, 20 de outubro de 2014

autoria

tô de passagem pelo mundo
a vida tá de passagem por mim
essas ideias não são minhas
não fui eu quem as concebeu assim
as ideias são livres
e é tudo por tudo pensado
cada verbo que passa por mim
é um ato do Universo do qual tenho me apropriado
e nada é meu porque eu é que sou de tudo
das coisas, os gestos; dos ventos, os beijos
dessas abobrinhas todas, o verde
que inundam falsa mente
o mar de caos que é o absurdo da compreensão
hoje sou eu
amanhã imensidão.

domingo, 19 de outubro de 2014

corrida

aprender a viver
deixa eu correr até o fim da faixa onde tem areia
deixa a água do mar bater até o calcanhar
o vento bater no cabelo
o cabelo encobrir o rosto
deixa as coisas de lado
desapega dos sentimentos
conhece as pessoas
lembra delas com os olhos e deixa as lembranças para as lágrimas
diz adeus
sonha acordado
sofre até colocar o coração pela boca
sente que é só até perceber que nunca está sozinho
se esqueça do outro até se lembrar de si mesmo
um dia de ventania
capta as ideias boas do mundo
dissipa as ideias boas pelo mundo
sorri para as pessoas
mas não sorri toda hora
o riso se perde na rotina
que faz perguntas curtas
e dá respostas caóticas
fala pouco
sente muito
sinto muito que é demais
sente um pouco do que é demais
tá no céu onde tudo é
existe como o bom e como o mau
nada existe para ser apenas contraponto
é tudo vivo
é tudo uma só
integração
e em tudo o que é mau reside um bem
todo bem guarda um mau adormecido
esquece a ciência porque ela é sempre igual a si mesma
não sai do lugar porque prendeu a imaginação humana em uma caixa
sem imaginação não há mundo
tudo o que há são as mudanças dos mundos imaginados
essa noite eu vivi um sonho
em uma praia linda de areias brancas
podia visualizar o mapa da praia na cabeça
a todo momento
podia ver a mim mesma flutuando no mapa
quis nadar entre uma ilha e outra
mas havia tubarões
tornei-me uma pessoa que tem medo de tubarões
anseio pelo nosso encontro, no entanto
agora que descobri quem quero amar
e a quem amo
como posso não viver ?
como posso deixar que seja assim ?
revolta-te
aceita-te
aceita
as coisas tem que ir embora
tudo se dissipa no fim da praia
dissipa-te
porque não há final dos tempos
finaliza
e seja sempre o começo
porque a vida e o tempo são mudança que não tem fim







terça-feira, 23 de setembro de 2014

quinta-feira, 5 de junho de 2014

prédio

Há algo nos prédios de que eu gosto muito. A maneira como eles lembram o sistema de funcionamento do corpo humano. Como lembram organismos, com seus vários tubos e canos e conexões. Um verdadeiro sistema circulatório! 
O que há também na mentalidade da cobertura do prédio ser do manda-chuva, já que o cérebro é quem comanda toda a bagunça que todo o resto é.

terça-feira, 3 de junho de 2014

cosmo

saudades dos pincéis
criadores dos mundos que habitei
minhas palavras foram coloridas
em forma de verso pintado

saudades dos papéis de todas as gramaturas
das sedas transparentes e verdes de várias espessuras
hospedeiros dos mundos por onde passei
e que tão logo pelo tempo serão apagados

saudades das tintas respiradas
em forma de nuvem e oxigênio
como em um místico universo borrado

saudade da tormenta
e do cinza grafite
lápis
apontador
meu cosmo com sabor
de ser sempre sabotado



mercantilismo

lágrimas, quem as compra?
há quem lágrimas procure
há quem lágrimas ofereça
lágrimas, quem as vende?

dê-me logo o endereço dessa peça
diga-me, onde mora?
se é que vende lágrimas
queria saber de onde elas vem
se sou eu
quem lágrimas chora

quinta-feira, 15 de maio de 2014

engula!

mascara o cheiro de suor
enxaguante bucal deixa o seu hálito puro
pedra sanitária pra abafar a sua ida ao banheiro
a gente tem chulé
pra isso use desodorante pro pé
tira a cutícula
cabelo na perna é nojento
chega de pelos na virilha
a gente aumenta o tamanho dos cílios com rímel
finge que a nossa pele é uniforme
a gente evita manchas
passa batom pro lábio ficar vermelho
blush pra maçã do rosto ficar maçã
usa anti-rugas porque é feio envelhecer também
põe silicone onde disseram que falta alguma coisa
alisa o cabelo








segunda-feira, 12 de maio de 2014

bêbados do pelÔ

sábado nas imediações do PelÔ
encontrei um bêbado que me pedia o dinheiro pra cachaça
eu com ares de doutÔ
e ele cheio de graça
repúdio ao seu cheiro de humanidade
foi que lhe respondemos

olhei nos olhos do bêbado
que me beijou a mão
mas saiu vagando sozinho pela cidade fria
sem cachaça no estômago e sem dinheiro

eu lhe neguei moeda pra beber
com o argumento de que não tinha
e de que ele torraria o tostão na cachaça
eu com meu suado dinheiro
cujo fim não era pra ser a bebedeira de um bêbado do pelÔ

horas depois limpei aquelas calçadas e escadas
na via pública fiz minha estada
o meu melhor companheiro, o cravinho
que se negava a ficar no meu estômago

onde haviam aquelas poucas pessoas interessantes
as que foram vender sua arte
querendo se esquecer de estar ali

vi o menino black, que cantou com Chico César
entornei seis vezes com o dinheiro que neguei pra quem queria se embebedar
e o meu gesto de humanidade,
qual foi?

sábado encontrei a bebedeira
e hoje encontrei o mar
e tem hora que dá vontade de desistir
mas haja calor pra aguentar viver em Salvador.








quarta-feira, 7 de maio de 2014

de novo

o que procuro em viagens
encontro em pessoas
são olhos todos
as pessoas são viagens neles
e com olhos tortos somos
todos apenas olhares


http://www.hypeness.com.br/2014/05/conheca-o-fotografo-que-capta-olhares-como-ninguem/

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Beijinho no “campo de força”




desejo a todos Darth Sith vida longa 
há muito tempo numa galáxia muito distante
bateu de frente é só os sabre de luz na chonga
aqui jedi fake não se cria com o mestre Yoda
acredito nos Ewoks os bichinhos tão peludo
Chew tá berrando peraí que eu não escuto
da Estrela da Morte quase não dá pra te ver
é o Palpatine tá querendo aparecer
Luke eu sou seu pai, e já tô pronto pro combate
keep calm e deixa de recalque
o meu sensor de midichlorians explodiu
pega a sua força e vai pra... Tatooine
beijinho no campo de força pro Darth Vader passar longe
beijinho no campo de força só pros Jabba, the Hut de plantão
beijinho no campo de força  só quem fecha com o Kenobi
beijinho no campo de força  só quem tem a força então
Padmesca Amidalazuda
Uma homenagem minha ao Dia de Star Wars
(especialmente pra os fãs recalcados, Charles L'Astorina )

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O tempo dos vândalos


essas coisas que estavam no mundo
quando a gente chegou
nenhuma delas existe
ou tem importância

essas ideias que estavam no mundo
quando a gente chegou
nenhuma delas existe
nenhuma delas é sua
quem inventou o mundo
inventou também as suas ideias

e quem tratou de enfiar tanta coisa na nossa cabeça?
um cem bilhão de gentes
que passou por aqui antes
que mesmo vivendo em um mundo de coisas sem existência
e absorvendo as ideias inventadas das outras pessoas
tratou de passar todo esse vácuo adiante

e é gente que não entende a gente
isso é o que mais tem

sinto que já é hora de desconstruir tudo
quebrar os muros da escola
é o tempo dos vândalos
pegar todas as carteiras e queimá-las no pátio

parece que só isso pode dar alívio
a essa tensão
que é viver em um mundo de relações superficiais
um mundo que construíram pra que a gente viva a vida sem viver