Quando eu tinha uns oito ou nove anos, encontrei um livro na biblioteca da minha cidade (que eu estava obstinada a dissecar) que falava sobre as propriedades dos alimentos, uma dessas enciclopédias de A a Z blá blá. Ali eu tive a ideia de datilografar uma carta para o presidente da república e contar pra ele que as pessoas não precisavam passar fome já que as cascas dos alimentos tinham muitas propriedades nutritivas fantásticas e ignoradas (coisa que eu devo certamente ter lido no livro). Aí eu tentei demonstrar, na carta, não lembro como, que se as pessoas parassem de jogar fora as cascas, a gente teria comida suficiente pra alimentar todo mundo. Pra mim, era bizarro saber que tinha gente passando fome, mas parecia ser uma coisa simples de resolver se cada um fizesse a sua parte.
Pouco tempo depois, me reuni com uma amiga e minha irmã (Julia Andradee Gabriella Espirito Castro) e montamos um clubinho - o Clubinho da Amizade -, que arrecadava alimentos para serem doados. A gente conseguiu montar algumas cestas básicas, e minha mãe (Vera Florio) ajudou a gente a distribuí-las porque não conseguíamos carregar sozinhas.
Continuo não suportando a ideia de que vivemos em um mundo onde há pessoas que não tem nem o que comer, e o pior é saber que o motivo não é a falta de alimentos, como eu pensava há décadas atrás. Essa é uma grande e terrível violência contra o ser humano...
Não sei se minha mãe chegou a colocar aquela carta no correio. Hoje em dia, eu testo minha teoria sobre cascas, me alimento com cascas de várias coisas, mas me recuso a escrever sobre isso pro Michel Temer.
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