eu que fui jovem
achei que poderia querer tudo
achei que o Sol não me faria enrugar
achei que o tempo era infinito
que o amor era bonito
e a saudade era um lugar
achei que empregos não eram importantes
e encontrei dez reais jogados na rua, que me fizeram feliz
molhei meus sapatos e os meus pés na lama
e pensei que um cumprimento legal era dizer a toda gente:
"aperte o seu nariz"
eu quem fui, jovem
comia açúcar mascavo e também açúcar torrão de monte
já quis vender camiseta na praça
e também brinco de hippie na fonte
hoje quero ser dançarina
e amanhã já não importa mais
engarrafava pinga e datilografava
que dormi assistindo ao concerto orquestrado dos poemas de Vinícius de Moraes
e amanhã quem sabe o Laos
ou um país desses, que a minha cabeça pequena julgue ser estranho
e fui jovem
quando fui a muitos lugares
e me esbaldava numa dessas gargalhadas sem tamanho
quando eu neles ria
que fui Platônica
e que me iludi várias vezes
dando o coração aos cantores do Youtube
e editores da Wikipédia
achei que o amor era eterno
que a vida era uma comédia,
e acabei por espatifar a cara no chão.
Que delicioso tombo!
Que tombo delicioso!! O problema é que todo tombo deixa marcas, e se num desses tombos eu quebrar as pernas ou bater a cabeça..??? Tomara que me reste apenas as cicatrizes, daquelas que a gente só recorda às vezes, e depois com o tempo já nem repara mais...
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