sexta-feira, 28 de outubro de 2011

já é hora de dormir.
o dia foi muito duro
e a cama é muito mole
eu finjo
eu sonho
escapo
ainda bem que essa hora chegou.
minha cabeça está tão pesada!

pesa como as coisas todas que joguei no chão
sentindo-me humilhada

o mundo dos despertos
dos desportos
é um mundo de dias difíceis

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

faremos farinha
eu sumi
um casaco na rua
era um dia de sol
e a bolsa apertava o ombro

tinha cheiro de farelo por toda parte
das casas de ração
o odor dos pintinhos
lembrara infância

que ruas são essas?
que estão em outros lugares e me transportam pra outro tempo

é hora do almoço já
e tem galinha com grãos de mandioca torrada...
faremos farinha

domingo, 2 de outubro de 2011

Tardes de marfim

traga a trégua
daquelas pragas
pra mim

traça cega
tranças truncadas
do bolo de aipim

trama trouxa
da varanda frouxa
como as tardes brancas de marfim


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Preguetes

Tinha um velho no ônibus pregando
ele olhava o Sol, que era uma salada no céu
e eu pregava de suor

O trabalhador pregou cartazes na parede branca da rua
e o garotinho aspirante pregara uma figurinha de chiclete no caderno

As pregas da calça de Tirça amassavam
e em frente ao Prego ela se interessou por aquele sofá
onde o casal estava na maior pregança

Os pregos do ônibus soltaram...
foi o fim da pregação








terça-feira, 31 de maio de 2011

Orkut de nerd

Hoje estou aqui para divulgar o site de relacionamentos de uns amigos.
Eles estavam cansados da exclusão social.
Eles não aguentavam mais ficar por fora dos novos tempos.
Eles queriam fazer novas amizades e adicionar geral.
Por isso, eles criaram o orkut de nerd.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Encanamento

Sempre os clássicos,
dialogar com eles.

Oh cânone canonizado.

Não suporto.

Espero que o cânone entre pelo cânone,
pelo cano.
Pelicano.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Desodorante Seco

Eu fecho os olhos e me vem a imagem deles.
Pêlos pretos de axila, compridos até.
Cobertos por um pó branco.

Eu quero voltar a ser como eu era.
Reconhecer-me no espelho.
Dançar alucinada uma música maluca no escuro da minha imaginação.
Repetidamente.

Essa cidade me angustia.
Tem gente chorando por todos os cantos,
como um câncer, um pêlo preto encravado de sovaco.
Sufocando. Incomodando.
Presos numa malha branca.
Como se fossem desodorante seco debaixo do braço.

Só se via aos pedaços.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O colchão selvagem de Fabrício.

Antes que eu me esqueça, escrevo para contar de um sonho.
Ele passou por mim essa noite, ou fui eu quem passou por ele.
O que me importa, pelo menos agora, é que estavas lá.
Talvez ele estivesse em você.  Não sei.
E não sabendo ao certo,  digo que não me importam, ou não deveriam me importar, tais diferença de significado.
E significados.

Éramos três ou quatro. Você, eu e Bruno.
Tínhamos um destino comum. O que o nomeou, portanto, como o quarto entre nós.
Deveríamos ter partido em viajem já há algum tempo. Enquanto isso os sons.

Finalmente o momento da partida chegara.
Parecia já ter feito aquela viagem e do mesmo modo que agora a faria.
Íamos todos para Santa Branca. Uma cidade pequena no interior de São Paulo.
O caminho era entrecortado por várias outras dessas cidadezinhas e, disso eu já sabia.
Como o sabia que viajaríamos em um colchão.

Não era nem um pouco incomum usar o colchão como meio de transporte naqueles tempos.
Mas eu não tinha percebido o quão incomum era para as outras pessoas, caladas ali na margem.
Colocamos o colchão no leito do rio e ele boiava. Não se molhou. Não havia nele nenhuma cobertura de plástico.

Entramos todos dentro do colchão, se é que se pode assim dizer, e começamos a descer o leito do rio.
Não me lembro do nome do rio. Não sei se isso é importante. Eu tive a impressão de que fazíamos a viagem daquele modo para economizar com a passagem de ônibus. Você sabe, viagens de colchão são de graça

Percebi que o colchão ia sozinho. Tomava as rédeas do caminho por si próprio, como se fosse autônomo. Não portávamos remos. Não era necessário esforço de nossa parte, o que fazia daquele, um dos melhores modos de viajar.

Alguns trechos eram bem acidentados e eu tive medo que algum de nós despencasse do colchão. Ele não oferecia nenhuma proteção contra quedas em cachoeiras ou trechos como aqueles. Tampouco usávamos coletes salva-vidas. Não era preciso já que sonhávamos. Sonhávamos todos?

Chegamos a uma cidade muito engraçadinha. As casas e demais construções arquitetônicas eram muito pequenas. Toda a cidade fora cuidadosamente construída nas mais delicadas minúcias. Enxergávamos-na completamente mesmo estando há 300 metros de distância. Havia uma ponte perto do rio onde desembarcamos. Ficamos por lá certo tempo apreciando a vista de enormes árvores. Essas sim, magnânimas e soberbas. Soberanas. Lembro-me do cheiro como se fosse açúcar.

Voltamos à bordo. O rio se transformara numa coleção de cachoeiras de três metros de altura.
Deveríamos subir aquele trecho, mas ele era realmente muito inclinado. Temi por nossa segurança. Parecia também que eu já havia enfrentado aquela parte da viagem. Com a mesma sensação de angústia. As mesmas dúvidas. Acho bem possível, já que o sonho era meu. Tive medo que o colchão não conseguisse. Ele levava quatro de nós e o Bruno estava rechonchudo. Ainda assim, conseguimos subir os mais de três metros de cascata tripulando o colchão. Ele era extremamente resistente, como então percebi.

Eu ouvira uma notícia no rádio, de que muita chuva era prevista. O volume das águas era incalculável.  Pedi que a viagem fosse cancelada. Instantaneamente todos aceitaram minha súplica e fomos até uma estranha rodoviária comprar passagens. Sem mais na metade do caminho. Não me lembro mais da presença do colchão e de seu destino desde aquele momento.

As passagens eram para Santa Branca. Isso a sorte não teve a oportunidade de mudar. Nem o número de passageiros. Continuávamos nós quatro. Os mesmos. Quem sabe. Durante aquela outra viagem perderam-se as malas. A unica coisa que sobrava insistentemente sobre o colchão éramos nós.  Todo o resto se foi e eu nem sabia que tínhamos coisas. Restaram-me apenas os tênis que calçava. No fim eu nada perdera. Não me lembro dos seus pertences, tampouco dos pertences de Bruno.

De volta aos tênis - pois isso me pareceu importante - estavam absolutamente encharcados.   Fiquei um pouco atordoada, pois todos naquela cidade saberiam antes do amanhecer, que além de ter um único par de tênis eu tinha um terrível xulé. Um xulé molhado.

Desde que saí de lá, de toda aquela situação, estive aqui. Escrevendo.
Estou relatando o sonho pra você, caso não se lembre dele ao acordar.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Em homenagem a Janeiro

Esse é meu primeiro post do ano...
quero pra mim um aposto
aposto que farei um post doc
e desse um post feminino
uma posta, portanto
uma posta de peixe,
e postergar o primeiro post sério do calendário.