Um cabeça-de-olho e uma cabeça-de-luz brotaram
num canto antes do espaço e do tempo
sem saber que estavam dentro do mesmo ponto.
Tudo era escuro e não era visto.
A cabeça-de-luz surgiu apagada e, assim,
o cabeça-de-olho nada podia ver.
Eles não tinham mãos para se tocar e não havia matéria
que carregasse o som de seus pensamentos.
Perceberam sua proximidade pelas
débeis ondas de calor que deles emanavam.
Seus corpos buscaram aquela quentura,
movendo-se, a princípio, inseguros,
um na direção do outro.
Na iminência do encontro, transbordavam em agonia
e sem mais saber o que fazer, beijaram-se.
A luz se ascendeu
iluminando o olhar que se abriu,
e as coisas ganharam sentidos.
Naquele silêncio expansivo,
derreteu-se a amargura da quietude
borbulhando o primeiro instante do Universo.
“Eu te vejo!”
“Alguém me nota!”
“Você me ilumina!”
“Brilho só para ti!”
Quem era ela,
ele quem foi?
Antes daquilo, mais ninguém.
Passados três segundos,
sentiram um peso insuportável
por serem apenas um para o outro
“Tudo que faço é te iluminar!”
“Contemplar-te é só o que sei!”
Mudaram-se,
tecendo em suas vidas nômades
os dias que correm na velocidade da luz,
o Cosmo que se expande na direção do olhar.
Desde então, trançam a existência na eternidade,
fazendo amor à distância.
O olho sem sentir saudade
porque a luz sempre o beija com seus raios.